Ingleses no Brasil

Aspectos da influência britânica sobre a vida, a paisagem e a cultura do Brasil

QUE é o ensaio? Sob esse nome o que mais comumente existe hoje é o estudo, a monografia que esgota determinado assunto dentro de linhas mais ou menos rígidas e de regras preestabelecidas. Ou então é o trabalho didático, que assenta em conhecimentos geralmente aceitos e em que cabe ao autor apenas o esforço de ordená-los ou sistematizá-los para melhor compreensão do leitor. No verdadeiro ensaio, de sabor montaigniano ou baconiano, haverá uma aparente falta de plano e o seu ritmo será o da própria vida — homens, instituições, costumes, épocas encarados sem rigores lógicos, "de maneira simples, natural e comum", como, se propôs Montaigne, o lado de saber positivo não dissociado nunca do sentido de "recreação" de que Bacon fez timbre. Só assim o ensaio surpreenderá também o lado de aventura em que muitas vezes se dissimula o veio poético dos temas considerados friamente prosaicos, jamais desvendado na douta monografia ou no tratado austero.

Neste novo livro de Gilberto Freyre — Ingleses no Brasil — surge mais um dos seus sumarentos ensaios, inaugurados com a obra-prima que é Casa-Grande & Senzala.

Ensaio na melhor significação, e com originalidade, força, simplicidade, naturalidade, dom de descobrir aspectos novos, de fixar a nota humana, de interessar nos leitores não só as ideias como os sentimentos. Repila-se para logo qualquer tentação de ligar a livro como este, de paciente pesquisa e de cautelosa interpretação sociológica, caráter de romance, de obra de imaginação. De tal faculdade se socorre sem dúvida o autor — que sem ela a mais séria investigação científica poderá tornar-se estéril e enfadonha; mas é naquilo em que a imaginação representa o pressentimento

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