Ensaios sobre história politica e administrativa do Brasil

1500-1810

todos os anos seus navios a descobrir 300 léguas de terra para diante, fabricarem uma fortaleza no descoberto e conservarem-na por três anos: no primeiro nada pagariam, no segundo pagariam um sexto, no terceiro um quarto do que levassem para o reino.

O relatório do veneziano Leonardo de Cha de Masser, escrito de 1506 a 1507, e publicado no livro comemorativo do descobrimento da América, pela Academia das Ciências de Lisboa, adianta que o arrendamento era de 20 mil quintais de pau-brasil, e devia durar um triênio, repetido em 1506, em 1509 e em 1511.

O nome de Fernão de Noronha aparece como um dos principais arrendatários, que mandava todos os anos homens e navios à terra. Dessas viagens comerciais bem pouco se apura dos documentos da época. Delas, entretanto, é provável que derivem esses vários portugueses mais tarde encontrados em diversos pontos da costa brasileira, alguns tidos como degredados, outros como náufragos, todos integrados na vida dos habitantes indígenas, cheios de mulheres e de filhos. O Caramuru, João Ramalho, Francisco de Chaves, o próprio e misterioso bacharel de Cananeia, aquele castelhano que vivia no Rio Grande (do Norte), entre os potiguaras, com os beiços furados como eles, — seriam talvez desse número de colonizadores espontâneos das terras do Brasil.

Fernão de Noronha teve por doação régia a ilha de São João, "que elle descubryo cincoenta legoas alia mar da nossa terra de Santa Cruz" — reza a carta de doação de 24 de janeiro de 1504. Daqueles dizeres inferiu Varnhagen haver sido Fernão de Noronha quem descobriu a ilha, provavelmente no São João de 1503. Seria esse, para Rio Branco (Efemérides Brasileiras, pág. 44), o segundo descobrimento, havendo mesmo um

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