Visão do paraíso

Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil

o autor do Livro que dá Razão do Estado do Brasil, onde escreve por volta de 1612, que os brancos, nestas partes, vivem ao longo da costa, mais hóspedes que povoadores".(45) Nota do Autor A própria expansão no extremo Norte, que acabaria por integrar na América Portuguesa o Vale do Amazonas, não foge a essa regra constante, pois que as margens do rio-mar e de seus grandes afluentes oferecem condições em quase tudo comparáveis às do litoral atlântico.

O tempo mudará tal situação, e no século XVII é um pouco a imagem do império espanhol, das Índias de Castela, que irá empolgar por sua vez os portugueses. Se o alargamento da silhueta geográfica do Brasil se faz muitas vezes em contraste com a direção inicialmente impressa à atividade colonial lusitana, e sobretudo por obra de mamelucos e mazombos, não é menos certo que irá perder terreno paulatinamente entre reinóis, no próprio Reino, aquela visão singela e tranquila da América Portuguesa que se espelhava nos escritos dos seus primeiros cronistas. D. Francisco de Sousa é um fabricante de maravilhas, quase um taumaturgo. E seu sucessor, D. Diogo Botelho, antecessor de Diogo de Meneses, já reclamará para si o título de vice-rei, como se o enfeitiçasse a esperança de governar um outro Peru.

Teremos também os nossos eldorados. Os das minas, certamente, mas ainda o do açúcar, o do tabaco, de tantos outros gêneros agrícolas, que se tiram da terra fértil, enquanto fértil, como o ouro se extrai, até esgotar-se, do cascalho, sem retribuição de benefícios. E a procissão dos milagres há de continuar através de todo o período colonial, e não a interromperá a Independência, sequer, ou a República.

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