mais me tenha impressionado — não só como observador científico, mas também como homem — do que esse que das circunvizinhanças do Rio se desfruta do alto do Corcovado. Há nele mil aspectos para observação e estudo; diante de tudo isso, domina-nos um sentimento análogo, porém infinitamente mais profundo, ao que se experimenta com a contemplação de uma criação sublime de algum velho mestre numa velha catedral. Quem se inclina sobre o parapeito que coroa o Corcovado, e olha para baixo, de uma altura de mais de dois mil pés(8) Nota do Autor para o templo das palmeiras do Jardim Botânico e para a tranquila Lagoa Rodrigo de Freitas — "um outro céu" em cujas profundezas azuis vagam nuvens alvas e floconosas; — quem pode contemplar os imponentes picos circundantes, verdes de uma eterna primavera e ostentando as notas prateadas das Cecropias — quem pode olhar ao longe as ilhas e o mar salpicado de velas, e as vagas lambendo as longas e sinuosas praias, e depois a baía, com a cidade orlando as suas curvas varridas pelas águas, e além um oceano de montanhas, a majestosa Serra dos Órgãos erguendo, no amplo fundo da baía, no azul distante, muito acima da linha das nuvens, seus grandes minaretes vivamente recortados contra o éter purpurino, — quem pode mentalmente rememorar todas as leis geológicas e climáticas, todas as leis naturais, enfim, que determinam a beleza e a utilidade desse cenário, — quem contempla tudo isso e não sente toda a sua alma vibrar em homenagem ao Artista cujas mãos modelaram os continentes, gravaram esses contornos, espalharam sobre eles o seu manto de vegetação e povoaram-no de seres, não foi além do abc e da gramática da sua ciência, nem pode fazer ideia da literatura da Natureza.
O Corcovado é apenas um dos picos do maciço de montanhas que ocupa uma vasta área a oeste do Rio.