Singularidades da França Antártica

Deve-se talvez a Hillary a vulgarização científica da expressão yaws, que ainda hoje predomina nos tratados ingleses. Aquele médico de Oxford observou o mal nos Barbados, em 1759 (Observations on the changes of the air and the concomitants epidemical diseases in the island of Barbadoes). Sob o nome de siwin, então vulgar na Escócia, a doença foi descrita pela primeira vez por Gilchrist, em 1754 (Physical and Litterary essaies of Edimburg).

Os cronistas franceses do Brasil colonial registraram a designação, ainda hoje comum na França, de pian; os portugueses e espanhóis a de bouba; os holandeses a expressão latina lues venerea, até hoje ainda não encontrada em outro autor antigo. Devemos referir que Piso, na 2ª ed. do seu livro (De Indiae Utriusque Re Naturali et Medica, 1658) gravou a palavra miá, recolhida dos ameríndios.

Rodolpho Garcia, nos seus comentários a Brandônio (Diálogos das Grandezas do Brasil) e Angyone Costa (Migrações e Cultura Indígena), com apoio em Baptista Caetano (Vocabulário da Conquista), afirmam que pian é termo tupi. Levacher nos ensina precisamente o contrário no seu erudito estudo acerca das origens dos diferentes nomes da doença:

"En consultant l'histoire générale du Pian, nous voyons qu'il a sévit sur le gendre humain presqu'à son berceau. Nous descouvrons que les differents noms qu'il porte provienent tous de la langue celtique et nous le trouvons designée non seulement chez les Celtes et les Gaulois, mais aussi chez les Irlandais, les Escossais, les Anglais, les Espangnols et les Portugais, dès l'origine de ces peuples". (Histoire du Pian).

Nos seus trabalhos de procura dos radicais correspondentes, encontrou Levacher nos antigos vocabulários da língua céltica a construção do termo pian, quase em estado de pureza, exprimindo "maladie, douleur, tourment". O mesmo esforço de pesquisa etimologica do historiador-médico francês estendeu-se aos demais vocábulos designativos da doença, levando-o à conclusão de que, com exceção da palavra latina framboesia, "toutes les expressions consacrés au pian sont d'origine celtique", inclusive a usual denominação portuguesa bouba, que "vient du mot celtique bubac, maladie hontense". Ora, o dialeto celta pertence às primeiras idades da história do mundo e sendo as etimologias dos termos consagrados ao mal, segundo Levacher, inteiramente de criação céltica, fácil será concluir-se pela antiguidade das boubas no continente europeu.

Não devemos deixar de mencionar que o jesuíta Ruiz de Montoya, missionário entre os guaranis do Paraguai do séc. XVII, fixou,

Singularidades da França Antártica - Página 476 - Thumb Visualização
Formato
Texto