OS LUSÍADAS DE CAMÕES
CANTO VI
Estância XCV
"Por meio destes hórridos perigos,
Destes trabalhos graves, e temores,
Alcançam os que são da fama amigos,
As honras imortais, e graus maiores:
Não encostados sempre nos antigos
Troncos nobres de seus antecessores,
Não nos leitos dourados entre os finos
Animais da Moscóvia zebelinos,
XCVI
Não co'os manjares novos e exquisitos,
Não co'os passeios moles e ociosos,
Não co'os vários deleites e infinitos,
Que afeminam os peitos generosos:
Não co'os nunca vencidos apetitos,
Que a fortuna tem sempre tão mimosos,
Que não sofre a nenhum que o passo mude
Para alguma obra heroica de virtude.
XCVII
Mas com buscar co'o seu forçoso braço
As honras, que ele chame próprias suas,
Vigiando e vestindo o forjado aço,
Sofrendo tempestades e ondas cruas,
Vencendo os torpes frios no regaço
Do Sul, e regiões de abrigos nuas,
Engolindo o corrupto mantimento,
Temperado c'um árduo sofrimento: