Através do sertão do Brasil

ou de uma viagem dessa espécie, ainda que sem objetivo científico especial.

É evidente que os excursionistas desta espécie não precisam relembrar que sua experiência pessoal não os habilita a se declararem desbravadores de sertões. Do mesmo modo que um bom arqueólogo pode não ser competente para falar sobre problemas correntes de política ou de sociologia, também o indivíduo que produziu valioso trabalho, como turista observador, em cidades pouco frequentadas, ou em estradas invias e remotas, deve acautelar-se de se considerar habilitado para as verdadeiras viagens nos sertões, ou autorizado a emitir juízos sobre os que realizam esta tarefa. Atravessar os Andes no lombo de bestas, pelas estradas batidas, é um feito comparável ao que os turistas destemidos realizam aos milhares atravessando pelos trilhos de animais de sela certos recantos afastados da Suíça.

Uma viagem trivial pelos trechos frequentados do Amazonas, do Paraguai ou do Orenoco não qualifica tampouco o indivíduo, para tomar parte em explorações de rios desconhecidos da América do Sul ou para emitir opinião a respeito. Assim também uma viagem pelo baixo São Lourenço não habilita alguém a se considerar capaz de viajar de canoa através do Labrador ou das terras áridas do oeste da baía de Hudson.

Há um século, ou mesmo há 78 anos, antes da era dos navios a vapor e das ferrovias, era mais difícil do que agora a delimitação entre esta categoria e a seguinte; aliás definindo esses limites, protesto com toda a veemência contra qualquer intenção que me atribuam querer assim criar um critério isolado de valor para livros de viagens. A Viagem do Beagle de Darwin é, a meu ver, o melhor livro deste gênero algum dia dado à estampa; é um desses livros clássicos que não cabem em

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