Através do sertão do Brasil

desta hipótese, adota, pelo menos, dez pontes dessa espécie entre a América do Sul e todos os outros continentes, presentes e passados do orbe, a partir de um período geológico não muito remoto. Muitas dessas pontes terrestres, além disso, devem ter a forma exata de pontes: de compridas e estreitas faixas de terras lançadas para todas as direções, através dos largos oceanos. Segundo essa hipótese, as massas telúricas continentais deveriam achar-se num estado de acentuada instabilidade de fluidez. Raciocinando-se de modo idêntico, as dez pontes de terras poderiam ascender a uma centena, em vez de serem dez somente. Os fatos atinentes à distribuição são, em muitos casos, inexplicáveis à luz de nossos conhecimentos atuais; ainda assim, caso a existência de formas muito separadas no espaço, mas aparentes de perto, fosse habilmente explicada de acordo com as opiniões dos extremistas dessa escola, poderíamos concluir, do estudo exclusivo de certos grupos animais, que em diversos períodos geológicos os Estados Unidos, e quase todas as outras terras do mundo, estiveram ligados entre si e separados de todas as outras terras pelo mar — e, do estudo de outros determinados grupos animais, poderíamos também chegar a conclusões diametralmente opostas e incompatíveis com as primeiras.

O mais brilhante e perigoso representante desta hipótese foi Ameghino, que possuía (e delas abusava) duas qualidades, ambas essenciais ao cientista da espécie mais elevada, e ambas prejudiciais, a menos que o cientista seja dotado de uma rara faculdade de pensar com exatidão, aliado ao conhecimento apurado dos detalhes. Essas qualidades são: o dom de escrever de modo claro e interessante, e a capacidade de fazer generalizações. Ameghino prestou assinalados serviços à paleontologia. Generalizou, porém, tomando como bases os mais fracos indícios, com

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