forte contraste com os picos do Corcovado e Tijuca; enquanto que a Gávea empina a sua massa em forma de vela, escondendo a metade da linha descendente de montanhas que se estendem até às lindes do Rio Grande do Sul. À direita, outra arrojada cadeia de montanhas nasce próximo à fortaleza principal que comanda a entrada da baía e, formando baluarte semelhando um anteparo, atinge, através de pitorescas terras altas, o promontório desnudo tão conhecido dos navegantes do Atlântico Sul pela denominação de Cabo Frio. Ao longe, no fundo oposto à entrada da baía, e em alguns pontos alteando-se mesmo por sobre a escarpada linha litorânea, pode-se avistar o perfil azul da distante Serra dos Órgãos, cujos píncaros arrojados sugeriram um dia a origem de tal nome.
O efeito geral é de fato sublime; e quando o navio se aproxima das margens abruptas, e se pode observar, nas vertentes da dupla montanha que se ergue por trás de Santa Cruz, a mata de folhagem vicejante peculiar ao Brasil, salpicada do púrpuro vivo das quaresmas, e quando se distinguem os cactos serpenteantes e as parasitas em flor, brotando e pendentes, mesmo do recortado e precipituoso despenhadeiro do Pão de Açúcar, e vislumbram-se em cada grota e em cada fenda novas evidências de um clima generoso e prolífico, a emoção, até aí dominada pela vastidão do conjunto, expande-se então em sucessivas exclamações perfeitamente explicáveis de surpresa e admiração.
A brisa perpassa sobre as nossas cabeças, e passamos por baixo das brancas muralhas da fortaleza de Santa Cruz. Um soldado preto, vestido com um claro uniforme de invejável frescura, debruça-se despreocupadamente num dos parapeitos, enquanto mais no alto, nos baluartes, uma sentinela marcha com passo demorado junto à cúpula de vidro que, iluminada à noite, serve de guia aos navegantes que entram. Imediatamente uma enorme trompa é empurrada para fora da cúpula, e o nosso bom navio é saudado por uma voz estentórica que lhe dirige, um inglês aportuguesado, as perguntas