O Brasil e os brasileiros: esboço histórico e descritivo v.1

sofre um giro que nos deixa ver na margem oposta a cidade da Praia Grande, os leixões em parte coloridos de São Domingos, e num rochedo isolado, que parece um fragmento da praia adjacente, a pequenina igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, onde os viajantes católicos podem pagar suas promessas, e em volta da qual muitas palmeiras graciosas acenam ao sopro da fresca brisa do mar. Enquanto aguardávamos a visita dos oficiais da Alfândega, permanecemos no tombadilho, sem nos cansar do espetáculo tão novo e estimulante. Pequenas embarcações a vapor e graciosas faluas passam e repassam de Praia Grande a São Domingos. Brancas velas ponteiam o mar até onde a vista alcança, enquanto que, em torno de nós, a serrada mastreação dos navios brasileiros e estrangeiros torna evidente que nos encontramos dentro de um vasto empório comercial.

Visão noturna — beleza e grandiosidade.

A noite em breve sucede ao curto crepúsculo dos trópicos, e a cidade vista de bordo parece uma terra encantada de fadas. O esplendor e a novidade não acabam com o dia. Focos de luz de gás sem conta contornam as imensas margens da cidade até bem à beira da baía, refletindo-se na água em milhares de reflexos tremeluzentes. Até os contornos dos morros se definem no meio da escuridão por filas de lâmpadas que se estendem por sobre os seus topos de verdura, semelhando as fabulosas pontes de estrelas de um conto árabe. As embarcações a vapor ostentam suas luzes diversamente coloridas e cada navio surto no porto tem uma lâmpada no seu mastro de proa; ao mesmo tempo em que cada giro das rodas sulca um mar de diamantes e cada pancada de remo e cada ondulação produzida pela suave brisa noturna revela milhares de brilhantes animaizinhos fosforescentes que iluminam as águas escuras. Quando contemplamos as alturas do céu, novas constelações

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