Memórias de um magistrado do império

aclamando Pedro II, em 1840; ele que conservara pelo Monarca, não o temor ou a senilidade, mas o respeito atávico e profundo, quase religioso, da velha lealdade lusitana, através de tantos incidentes com os poderosos do momento; ele que conservara sempre viva a fé nas instituições, descrendo dos seus homens; tinha agora, - suprema incompreensão - de ver no novo regime o nome de sua gente, representado por alguém, cuja carreira acompanhava com tanto carinho e cujo talento tanto o envaidecia: Rui Barbosa, membro do Governo Provisório.

O Cons.° Albino passou os últimos dias de novembro em grande aflição: "Minha filha, dizia a D. Francisca Jacobina, mande chamar o Rui, quero lhe dizer umas tantas cousas". Está claro que este não foi chamado. Seria o debate entre o espírito monárquico que desaparecia, representado por quem o encarnava com tanta dignidade, a crença nas instituições que se esbatiam, e a alma da geração que subia cheia de esperanças em novas fórmulas. Que poderia responder o moço ao amigo de seu pai, ao velho que sempre tivera como chefe de sua família?

A sete de dezembro faleceu o Conselheiro Albino. A oito se enterrava no Cemitério de S. João Batista. Sobre o seu túmulo que mandara preparar para ele e para a mulher, gravara como derradeira homenagem à sua felicidade conjugal o verso de Virgílio (Aen. IX - 446):

Vortunati ambu! Si quid mea carmina possunt

Nulla dies unquam memori vos eximet oevo
!

Memórias de um magistrado do império - Página 358 - Thumb Visualização
Formato
Texto