Memórias de um magistrado do império

Um, corpo de reserva desses soldados, que se acham no Carmo, e são novamente vindos de Lisboa, que por isso se chamam - Legião Lusitana - se puseram no terreiro, repartindo-se sentinelas pelos becos das ruas com pólvora e bala para atirarem, quando viesse Povo em chusma, e no beco da Casa da Viúva Florência, se pôs um parque de metralha com a boca para a rua do Saldanha. Estando os mais soldados na Praça (digo dos Lusitanos, e num 12 porque os da Bahia não saíram dos seus quartéis), e estando também a Cavalaria, se puseram Parques para a boca da rua, que vai para Guadalupe, e para a que vai à rua Direita das Portas de São Bento, tendo também sentinelas nos becos, de sorte que vindo da Praça para a Misericórdia quatro moleques gritadores, atirou a Sentinela, que estava debaixo da janela da Misericórdia para a rua Direita, e matou à porta do Luiz Alfaiate, um moleque do Sarg. Mor reformado da Torre, chamado - Mija verde - que vinha quieto com o cesto, trazendo peixe para seu Snr. jantar; o que tem posto o Sarg. Mor em desesperação, e muito choroso, pois era cozinheiro, seu alfaiate; seu engomador; seu tudo de regência, e economia de sua subsistência.

Ora, antes de virem esses soldados para a Praça, entraram na Casa da Câmara várias pessoas, e esses nomeados na Gazeta n.° 115 e persuadiram com muito Povo, de que já a Praça estava cheia, gritando - "Viva a Constituição! Viva a Religião! Viva El Rei o Snr. D. João! E Vivam as Cortes em Lisboa!", e fizeram a Câmara ir a Palácio com o Estandarte, que a deposição do Governo, pois o Povo acrescentava - "e morrão os Governadores, que são Ladrões". Houve um grande debate em Palácio, e nesse ato saíram pela porta do Calundú, o Gov. Paula,(1) Nota do Leitor Corel. e o Gov. Pereira,(2) Nota do Leitor e foram chamar a tropa, com que se guarneceu a Praça na forma dita. O Paula desfilado na carreira do seu cavalo, e com uma pistola na mão gritava - "Viva o

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