Penetramos em breve no interior da aldeia que constitui a capital desse reino de negros; os detritos de peixe que lhe cobrem literalmente os arredores exalam o cheiro mais infecto; as choças são construídas de palha e têm um grande teto cônico. Constam de um cômodo único, destinado a alojar toda a família, que dorme em esteiras; de móveis há apenas uma arca para os objetos preciosos, tais como armas, e às vezes um grande pilão, onde as mulheres socam o milho, que é, com o peixe, de que a baía é um reservatório inesgotável, o único alimento da população. A vestimenta dessa gente a maior parte das vezes consiste em uma peça de algodão, com que se envolvem mais ou menos completamente, e quase todos têm em torno do pescoço, ou nos membros, colares de forma extravagante, feitos de couro, que ele chamam "grisgris" e a cujo respeito têm ideia supersticiosa. Esses grisgris contêm versículos do Alcorão e são considerados como preservativos contra diversos males, ou contra os perigos de guerra. As armas dos negros são a zagaia, espécie de longa lança, o punhal e o arco; se possuem fuzis, o que é raro guardam-nos com religioso cuidado, muito embora estejam quase sempre em condições de não poderem ser utilizados. Com dinheiro francês adquirimos facilmente algumas amostras desses objetos. Ao nos aproximarmos da mesquita, que fica situada debaixo de enorme figueira e é uma espécie de cortiço feito de esteiras, e um pouco mais espaçoso do que as outras construções, gozamos de um espetáculo dos mais curiosos. Frente à porta estava sentado o rei, tendo de cada lado um mouro que, pelo turbante verde, reconhecemos serem marabus. Esses doutores tinham nas mãos tábuas da lei, em tudo semelhantes às de Moisés; em torno do chefe via-se grande quantidade de negros, sentados ou de cócoras, a maioria com tangas e pontudos bonés, mas alguns inteiramente nus. Em breve ficamos sabendo que assistíamos ao julgamento de um ladrão e, com efeito, vía-mos