Expedição às regiões centrais da América do Sul v.1

possível; às vezes são verticais, outras vezes debruçam-se sobre o rio, outras ainda são inclinadas em escarpa abrupta. No vértice, todavia, são rematados por planos horizontais.

No dia 8 tínhamos feito sete léguas e a 9 vencemos ainda uma distância de seis léguas. A 10, como estivesse o nosso acampamento quase defronte de um aldeamento de índios craós, fomos visitá-los pela manhã. O caminho que a ele conduz parte da margem esquerda, perto da barra de um ribeirão, e pode ter uns 200 ou 300 metros de comprimento. A posição do aldeamento é extremamente pitoresca, no meio da bela mata e junto ao sopé de uma montanha cortada em forma de mesa. Embora não convertidos ainda ao cristianismo, os índios que nele moram são muito mansos e já se habituaram ao contato com as pessoas mais ou menos civilizadas, através dos viajantes que passam continuamente pelo Tocantins. Possuem até um chefe brasileiro, que há quatorze anos mora entre eles. O aldeamento compõe-se de umas quinze casas. A agricultura é praticada em escala apreciável, os produtos mais importantes sendo o cará, o feijão e a cana-de-açúcar. Os craós são o resultado de um desmembramento da tribo dos apinajés; falam um dialeto da mesma língua destes últimos, diferindo deles porém por não terem o lábio perfurado e pelo modo de cortar o cabelo. Os apinajés raspam o alto da cabeça em forma de coroa; mas os craós fazem apenas um círculo em torno da cabeça, deixando crescer a cabeleira na parte posterior. Esta tribo, abstração feita de certas qualidades boas, deu-nos a impressão de estar completamente desmoralizada e dominada pelo vício da embriaguez. Nas orelhas trazem os craós os mesmos adornos que os apinajés. Os homens andam completamente nus, ao passo que as mulheres usam uma folha de jenipapo, amarrada com um fio de algodão. Meu pequeno Catama, que depressa se tinha acostumado conosco,

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