Expedição às regiões centrais da América do Sul v.1

desta expedição observaram nas choças dos xavantes indícios certos de antropofagia. Em várias casas viam-se farrapos de carne humana pendentes do teto, ao passo que em muitos lugares viram-se ossadas, parcialmente roídas e carbonizadas.

Estes selvagens costumam devorar também os parentes velhos, aos quais, segundo dizem, matam, no momento de exalarem o último suspiro. Foi notado que os pés e as mãos são as partes do corpo por eles preferidas; isso porque, a seu ver, as outras partes do corpo dos cristãos têm gosto muito amargo. Possuía o coronel em seu serviço um índio xavante, trazido quando pequeno. Tão certo de sua fidelidade estava o dono, que não hesitou em levá-lo na última expedição; entretanto, este desgraçado fora feito prisioneiro, escapando de ser morto apenas por milagre. Quando o vimos, tinha uma mão e as orelhas cortadas, e a cabeça horrivelmente dilacerada.

Os craós do aldeamento pequeno de que falei atrás vieram nos fazer uma visita, trazendo-nos de presente leite, que apreciamos enormemente, em vista do calor sufocante. Acompanhamo-los depois até o seu aldeamento, onde fomos encontrar, morando com eles, vários brasileiros. Como nos outros aldeamentos da mesma tribo já vistos por nós, as mulheres usavam aqui os mesmos trajes de Eva depois do pecado.

À 17 nos pusemos novamente a caminho rio acima, navegando o dia todo, com uma curta parada de minutos no sítio do capitão Gonçalves, para completar nossa ração de farinha. Logo depois entrávamos de novo no sertão deserto, perdendo de vista durante muitos dias o contato com a civilização. À noite postamos sentinelas, o que não impediu que os cães nos devorassem uma boa parte da provisão de carne-seca, acidente dos mais sérios em semelhantes circunstâncias.

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