Expedição às regiões centrais da América do Sul v.1

e forte vozerio que fazem na mata estes macacos. A temperatura do rio, às quatro horas da tarde, era de 27,8º; a do ar 38°. Deste modo, a água que tínhamos para beber era mais quente do que a que usamos habitualmente em Paris, para tomar banho.

No dia 20 fizemos sete léguas e meia, através de uma região muito pitoresca, mas de onde já desapareciam pouco a pouco as montanhas em forma de mesa. Ia a minha canoa na vanguarda quando avistamos uma grande cobra a balouçar-se no galho de uma árvore. Fiz encostar sem demora, mas o animal desapareceu antes que lhe pudéssemos chegar perto. Era uma jiboia de uns três metros de comprimento. No Araguaia já se me havia oferecido ensejo de apreciar espetáculo semelhante. Estávamos no ponto mais estreito do Furo de Bananal quando, repentinamente, ao fazer o rio um cotovelo, ouvimos muito perto um mugido semelhante ao de um touro. A tripulação deixou incontinenti de remar, apontando-me com o dedo uma jiboia de quatro a cinco metros de comprimento, também pendurada de uma árvore; em poucos instantes deixou-se cair na água, atravessando o rio a nado. Tenho até aqui me esquecido de mencionar a história de um animal, provavelmente fabuloso, de que falam muito os pescadores do Araguaia. Chamavam-no minhocão e descreviam-no como tendo a aparência de uma minhoca, mas com um comprimento de 30 a 40 metros. Diziam que a sua voz é de tal modo retumbante que pode ser ouvido a léguas de distância. O pavor que desperta ter-lhes-ia feito abandonar muitos lagos do alto Araguaia, apesar da enorme quantidade de peixe neles existente. Falavam-me todos deste animal, mas ninguém me soube fornecer qualquer informação precisa ao seu respeito. Esses homens estão acostumados a ver diariamente jiboias, sem lhes ter o menor medo; não é assim crível que possam ter adquirido tamanho pavor de um animal desta espécie, por muito gigantesco que ele fosse.

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