Expedição às regiões centrais da América do Sul v.1

A paisagem apresentava o mais agradável aspecto, coroando-a uma série de colinas cujos tons azulados excitavam a nossa admiração. Durante a jornada, como nas precedentes, observamos argilas subordinadas ao grés vermelho de tão singulares recortes. O Tocantins voltara à sua anterior largura de cerca de 300 metros. Durante a noite, um de nossos companheiros, que se tinha escondido debaixo de um velho tronco, ao sentir qualquer coisa a lhe comprimir o peito, verificou que algum volumoso bicho ali se viera aninhar: era um monstruoso sapo, de pele fria e viscosa.

No dia 25 fizemos quatro léguas e um quarto. Em meio a este trajeto, a largura do rio que até então conservava os seus 300 metros, bruscamente aumentou, alargando-se à semelhança de uma vasta bacia circular, junto ao sopé de uma serra, que já víramos desde o dia anterior. Ao centro desta bacia descortina-se uma vista admirável das montanhas que fecham o horizonte e fazem sobressair o delicado perfil das palmeiras existentes no primeiro plano. A estreita porta do desfiladeiro por onde se escapa o rio mostra no centro do quadro as gigantescas muralhas de grés por entre as quais, num remoto passado, o Tocantins deve ter aberto passagem, com uma violência ainda hoje testemunhada pelos blocos despedaçados de grés ou de granito que se oferecem em ambas as margens ao olhar espantado do viajante. Ora debruçadas sobre a corrente, ora desabadas sob o próprio peso, estas rochas fazem pensar nas muralhas arruinadas de uma cidade de gigantes. A largura do estreito por onde tínhamos de passar não ia além de uma centena de metros, com um comprimento quatro vezes maior, aproximadamente. A este canal é que dão o nome de primeiro Funil. O rio expande-se novamente; mas, embora seu leito continue a permitir passagem franca, vê-se de quando em quando surgir de sob a água enormes pedras negras, despedaçadas e nuas,

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