Expedição às regiões centrais da América do Sul v.1

nesta ocasião ultrapassou tudo quanto pude ver em onze anos de permanência na América; a terra tremia literalmente sob o estrondo dos raios, que a cada momento caiam em torno de nós, com estampido semelhante ao de uma formidável descarga de artilharia. Perto de onde estávamos vieram abaixo várias árvores, arrastando na queda as suas vizinhas. Nesse desencadear dos elementos não era pequena a inquietação que me dava a volumosa bagagem de armas e barris de pólvora, embora eu a tivesse mandado colocar sob o abrigo da barraca grande, protegendo-a da melhor maneira possível. Os homens, apesar de acostumados à vida no sertão, pareciam bastante preocupados e as próprias sentinelas tinham deixado os seus postos, procurando chegar-se aos companheiros. O clarão produzido pelos relâmpagos era inimaginável e fazia notável contraste com a escuridão que se lhe seguia. Sob a pavorosa tormenta, os próprios bichos da mata perdiam a habitual timidez, vários periquitos tendo buscado refúgio no meio de nós.

A nossa barraca, cujos paus tinham sido solidamente enterrados na areia, resistiu durante algum tempo, mas acabou por ceder aos esforços da furiosa ventania, abatendo-se sobre as nossas cabeças. Assim tivemos de permanecer muitas horas, deitados na água e transidos de frio. Apesar do desagradável de nossa situação não pudemos deixar de admirar a sublimidade da cena que se desenrolava aos nossos olhos. Passamos o resto da noite com as roupas pingando, até que o dia despontasse, para a nossa grande alegria. Não obstante, no dia 23 o sol não apareceu, impossibilitando-nos de secar as roupas de cama. A jornada que fizemos foi de quatro léguas e meia.

A 24 o céu continuava muito fechado; ao meio-dia choveu um pouco e à tarde começou a soprar forte ventania. O sr. d'Osery matou, em pleno rio, uma enorme cascavel, que tentava chegar a nado à outra margem da corrente.

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