Expedição às regiões centrais da América do Sul v.1

fomos recebidos pela sua mãe, uma mulata idosa, que nos procurou tratar da melhor maneira. Tivemos aqui notícias de nossa tropa de mulas, sabendo que ela não tinha chegado ainda ao porto, mas, pelo contrário, havia sido encontrada em viagem, no meio de grande desordem e com a bagagem em parte depredada. Fomos acampar uma légua mais acima. Rebentou durante a noite grande temporal, soçobrando uma de nossas embarcações. Nesse dia e no seguinte não fizemos mais de seis léguas, chegando a Porto Imperial só em 31 de agosto. O rio oferecia navegação franca, afora alguns obstáculos de pouca monta, tais como pequenas corredeiras. A formação geológica era constantemente o cascalho aglomerado pudinguiforme e em placas. Observaram-se também muitos traços da formação argilosa inferior.

Porto Imperial fica situado no alto de um barranco que o defende contra as enchentes. Assim que ancoraram as nossas embarcações, recebeu-nos o major Ferreira, a quem tanto procurávamos. Era um mulato velho, cor de chocolate. A roupa que envergava este personagem merece descrição particular: trazia à cabeça um boné tricórnio, agaloado de ouro; pendia-lhe do corpo comprido e seco vasta túnica bordada e de cor azul-celeste, que havia pertencido ao avô; calças de nanquim, meias azuis e grandes sapatos de argolas completavam esta extravagante indumentária. Trazia à mão uma bengala com enorme castão de prata. Acompanhava-o o mestre-escola, homenzinho barrigudo, e vários personagens importantes do lugar. Fomos acomodados numa boa casa, coberta de telhas, mas construída de adobe, como as demais. Quanto ao pessoal da tripulação, foi ele hospedado na casa da cadeia, que era o único albergue da terra; ali ficaram os nossos homens, como se estivessem em sua própria casa. Como de hábito, os quartos estavam completamente vazios; mas nós tratamos logo de armar as nossas redes, pois desde muito

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