tempo outro mobiliário não conhecíamos. Era necessário permanecer algum tempo na cidade, não só para lhe determinarmos a posição geográfica, como para esperar que a nossa tropa nos alcançasse.
A 2 de setembro chegou à cidade o furriel, anunciando-nos que a tropa entraria à tardinha no povoado. Com efeito vimo-la apontar na estrada horas depois, no estado mais lamentável: os cavalos vinham mortos de cansaço e as mulas, embora descarregadas, pareciam mais verdadeiros esqueletos ambulantes. Pequena sindicância nos revelou sem demora que muitos dos animais tinham sido vendidos e que outro tanto fora feito com as ferraduras dos restantes, com o fim de comprar aguardente; que o dinheiro dado para a compra de milho tivera a mesma sorte, motivo pelo qual a tropa tinha chegado em tão miseráveis condições; finalmente, que os tropeiros, indo batucar numa povoação, haviam deixado que se queimassem as selas e as albardas. Para tudo isso havia apenas uma desculpa, aliás muito aceitável aos olhos dessa gente; é que estavam na crença de que tínhamos todos morrido e portanto, ao proceder daquela forma, não estavam lançando mão senão daquilo que julgavam já pessoalmente lhes pertencer. Teriam até vindo ao porto apenas por desencargo de consciência, pois estavam tanto mais convencidos de nossa desventura quanto o nosso arreeiro que, ao limpar certo dia o sabre, havia encontrado manchas de sangue, exclamando imediatamente: "Morreu o meu patrão!". Havia já mandado dizer missa pela salvação de minha alma, ficando certo de ter saldado todos os seus compromissos. Estas razões pareceram excelentes aos olhos da maioria dos moradores da cidade, mas não me impediram de mandar prender os principais chefes da caravana, o que todos do lugar consideraram severidade excessiva.
Ficamos sabendo que o missionário de Boa Vista tinha vindo meses antes pregar em Porto Imperial e que