Expedição às regiões centrais da América do Sul v.1

Declarei ao pretinho que ele tinha de ser o nosso guia, ao que me respondeu ele não ser isso possível, uma vez que andava à procura de alguns animais fugidos, pertencentes ao seu patrão. Convencido porém de que sem a sua ajuda nos seria impossível encontrar a nossa caravana e verificando que nenhuma das razões apresentadas foi capaz de convencê-lo, fi-lo escoltar por dois cavaleiros. Outro remédio não teve ele senão se conformar. Dormimos no meio de um alto capinzal, perto de um campo inundado. Um bando de araras jacintinas tinha se refugiado numa árvore próxima, importunando-nos durante longo tempo com os seus gritos estridentes.

A 18, durante a noite, fiz amarrar por um braço o nosso guia, fazendo-o guardar por uma sentinela; mas, como, no fim de contas, ele estava sendo muito bem tratado e alimentado, é de acreditar que se houvesse consolado de ter de ficar conosco.

Alcançamos cedinho as margens do Tocantins, que depois acompanhamos durante algum tempo, dentro da mata; mas, ao cabo de uma marcha de três léguas e meia, tendo chegado a um ponto em que a margem do rio era parcialmente obstruída por um grande banco de areia, pedimos a uma embarcação que estava na outra margem para vir buscar-nos. Nesse lugar o rio tem uns 250 metros de largura. Na travessia, por pouco íamos perdendo um dos animais de carga. Os tropeiros haviam imprudentemente feito alguns deles entrar nágua, para atravessarem o rio a nado, sem lhes ter dado tempo para descansar; vários estiveram a pique de se afogar, sendo trazidos para terra à custa de muito trabalho. Esse fato nos levou a deixar a passagem de todos os animais para o dia seguinte.

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