Expedição às regiões centrais da América do Sul v.1

chamar um negro velho da Costa, de quem me falavam como sendo muito versado no combate aos envenenamentos. Ele me garantiu, com grande aprumo, salvar o animal. Mandou buscar uma garrafa com certa droga que ele guardava no maior cuidado e que deixou cair gota a gota na boca da mula doente. O animal, porém, estremecendo numa convulsão derradeira, sucumbiu quase imediatamente. Imaginei que aquela beberagem pudesse ter sido a causa da morte da mula, pelo que ameacei castigar o negro se ele não me fizesse saber sem mais demora a composição da droga que acabava de ministrar. Todo trêmulo, lançou-se o desgraçado aos meus pés, confessando-me que ela nada mais continha do que água salgada.

Viam-se em toda esta região muitas gameleiras, extremamente curiosas; uma destas figueiras sombreava uma área de 40 metros de diâmetro. Não foram precisas mais de duas léguas para alcançar a fazenda da Penha, onde pernoitamos.

No dia 17 fizemos sete léguas. O chão, sempre muito plano, parecia de aluvião; num ponto porém da estrada, observamos massas arredondadas de granito, pouco elevadas acima da superfície do solo. A estrada passa no meio de várias campinas úmidas. Como acontece sempre no Brasil, tinham-nos dito que a estrada era muito fácil de achar e que não havia necessidade de guia; mas vimos logo que nos tinham enganado, pois o caminho era apenas visível, chegando às vezes a desaparecer completamente. Por fim, ao entrarmos num pedaço de mata, foi-nos impossível descobri-lo. Perto de duas horas perdemos na procura do caminho, sem resultado; mandei patrulhas em várias direções; uma delas trouxe consigo na volta um moço vaqueiro, que procurara fugir quando foi visto. Tinha tomado os nossos homens pelos selvagens índios canoeiros que desolam a região, não obstante fosse difícil, à vista de sua vestimenta, serem tomados por civilizados.

Expedição às regiões centrais da América do Sul v.1 - Página 381 - Thumb Visualização
Formato
Texto