sobre areias e por entre mesquinha vegetação denunciadora de antigo domínio do mar.
E, curiosa, interessante, notável, notabilíssima ideia ou inspiração daqueles colonos portugueses tão bisonhos e tão sem malícia!... como aquela aberta ainda não era rua, e eles precisavam designá-la por algum nome, chamaram-na Desvio do Mar. Desvio!...
Eis o berço da bonita, vaidosa e pimpona atual Rua do Ouvidor! Fica, pois, historiado que ela nasceu de um desvio, e desvio da rua Direita, ou do caminho direito, o que, a falar a verdade, não era de bom agouro.
Todavia foi ali aumentando logo o número dos tetos abrigadores; como, porém, se já estivesse prevendo e prelibando seus destinos futuros, o Desvio do Mar ostentou desde os seus primitivos anos suas duas séries de cabanas de aspecto rústico, mas agradável, e perfeitamente alinhadas e paralelas.
O Desvio teve por primeiros moradores gente pobre, no trabalho porém ativa; peões que exerciam misteres, operários, e um cirurgião que era barbeiro dos nobres.
Mas no ano de 1590 e sem intervenção nem audiência da Câmara Municipal o Desvio do Mar por acordo geral dos colonos subiu ao grau honorífico de rua urbana com o nome de Aleixo Manuel (4)Nota do Prefaciador.
Tal foi a primeira denominação que recebeu, deixando de chamar-se — Desvio — a rua, cujas memórias escrevo, Aleixo Manuel! Nome masculino, feio, ingrato, peão sem raiz de fidalguia, nem carta de nobreza.
Procurei nas crônicas do tempo, e nas obras de monsenhor Pizarro e de Baltazar da Silva Lisboa (5)Nota do Prefaciador algum Aleixo Manuel, que tivesse deixado nome na história; mas foi trabalho baldado, não encontrei entre os fidalgos da nascente colônia esse positivo e irrecusável avô da atual Rua do Ouvidor; não há, porém, meio de dissimular o