Memórias da Rua do Ouvidor

Mas memorista-historiador que sou, não hesito em atraiçoar o segredo da idade aproximada da Rua do Ouvidor, que tão louçã, namoradeira e galante, conta com certeza mais de trezentos janeiros.

Sabem todos que a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, fundada por Mem de Sá em 1567, teve o seu assento sobre o monte de São Januário (depois chamado do Castelo) (1)Nota do Prefaciador; mas, perdido o receio de ataques inopinados dos Tamoios, começaram logo os colonos a descer do monte e a estabelecer-se na planície.

Primeiramente levantaram à beira do mar casas e choupanas com uma só linha, formando, o que alguns anos mais tarde recebeu o nome de Rua da Misericórdia; em seguida foram adiantando suas rudes construções pela praia de Nossa Senhora do Ó, que a mudar de denominação se foi chamando Lugar do Terreiro da Polé (2)Nota do Prefaciador, Praça do Carmo, Terreiro do Paço, Largo do Paço, e enfim Praça D. Pedro II.

Da praia de Nossa Senhora do Ó (onde logo depois de 1567 um devoto erguera pequena capela com essa santa invocação) as casas e palhoças continuaram a levantar-se mais ou menos separadas uma das outras e ainda à beira do mar, e também em uma só linha, que muito em breve formaram a primitiva rua Direita que é desde 1870 Rua Primeiro de Março (3)Nota do Prefaciador.

Tudo isso foi obra de 1568 a 1572, e não admira, porque as primeiras casas eram de construção muito ligeira e evidentemente provisórias.

Mas em ano que correu entre o de 1568 e o de 1572 alguns colonos abriram a pouca distância do começo da rua que se denominou Direita, uma entrada em ângulo reto com ela, e cada qual foi improvisando grosseiro ubi para si e para sua família aos lados dessa aberta feita

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