PREFÁCIO
Dentro dos quadros do Romantismo brasileiro, a obra de Joaquim Manuel de Macedo é das mais numerosas. Estende-se por teatro, romance, folhetim e livro didático. Não obstante as restrições do meio, a popularidade desfrutada deve ter-lhe proporcionado possibilidade de aproveitamento econômico de sua literatura, o que pode ter contribuído em algum grau para que esse médico abandonasse o bisturi, ou termômetro, para entrar decidida e absorventemente pelos territórios da ficção.
Para um leitor moderno, a obra de Joaquim Manuel de Macedo é dificilmente digerível. São intoleráveis os seus romances, abundantes de ficelles, e por vezes de enredo intrincadíssimo, perdendo-se por ascensões e quedas, aprofundamentos e descaminhos, não obstante a singeleza do tema monocórdico: o amor ou, diríamos melhor, a forma burguesa da organização do amor, o casamento.
Se os romances não podem constituir mais fonte de prazer estético, a seu teatro temos que não apresenta maiores possibilidades desse ponto de vista. E muito menos a sua poesia.
Essas restrições não nos levariam em absoluto a revogar a importância de Macedo nos quadros do pensamento brasileiro. É que os seus romances e peças de teatro, se não valerem especificamente como tais, valem como documentos de valor inestimável, para o efeito de reconstituição da vida social brasileira do século XIX. O Brasil está presente em Macedo. Em corpo e alma. Com perfeições e com vícios. Seus livros são manancial