Memórias da Rua do Ouvidor

da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, para nesta capitania levarem a ferro e fogo o extermínio a essa tribo funesta e indomável.

Aleixo Manuel alistou-se voluntário na coluna expedicionária fluminense, que foi comandada por Cristóvão de Barros.

A história guarda a lembrança da justificada, mas horrorosa guerra: o incêndio devorou dezenas de aldeias de índios, e destes mais de dez mil foram mortos, mais de sete mil prisioneiros e reduzidos à escravidão, e os Tamoios que puderam escapar meteram-se pelas florestas, emigrando para muito longe, e para sempre (8)Nota do Prefaciador.

Mas o que a história não diz, e a minha tradição informa, é que a tremenda expedição rendeu a Aleixo Manuel dois escravos tamoios, a que ele generoso e a custo salvara da medonha hecatombe de uma horda apanhada de surpresa em sua aldeia, nas proximidades de Cabo Frio.

Os dois escravos eram um índio quase sexagenário e uma índia, sua neta, de três anos de idade; — um homem já a envelhecer, e uma menina a criar; mas para conseguir salvá-los da morte. Aleixo Manuel os tomou à sua conta.

A menina evidentemente não era de raça pura tupi: era uma linda mameluca; a aldeia selvagem estabelecida perto de Cabo Frio ocupado por franceses, e as relações amigas e frequentes destes com os tamoios das vizinhanças, seus aliados, explicavam o cruzamento das duas raças naquela bonita e interessante criança.

De volta à cidade Aleixo Manuel não quis continuar a residir no Monte de S. Januário, e fazendo construir boa e espaçosa cabana no Desvio do Mar, nela se estabeleceu, como cirurgião e ainda barbeiro; mas barbeiro só de fidalgos.

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