Leu-a e devolveu-ma em profundo silêncio. Meu desejo de obter informações começava a esfriar-se quando, por sorte, surgiu um homem decentemente vestido que não se mostrou tão desesperadamente reservado. Contei esse caso rio abaixo e todos os moradores elogiaram o delegado. É de supor-se, pois, que ele estava debaixo da influência de São Romão.
Continuando nosso passeio, após esse episódio, para o sul de Boa Vista, deparamos com uma segunda igreja, Nossa Senhora da Abadia. Ostenta a fachada caiada do costume com duas janelas, parecendo um mutilado, um rosto sem nariz. Para oeste, ou na direção do interior, há alguns ranchos esparsos, em terrenos cercados de cáctus. Eis o terreno elevado e saudável onde deveria ter sido construída a vila. É, infelizmente muito distante do centro comercial, à margem do rio. Portanto, como em nossa África ocidental, os homens não me mudarão. Preferem ver as inundações entrar pelas casas adentro. Em certas ocasiões houve enchentes excepcionais que puseram todos em fuga. Em 1838 a água elevou-se, em certos lugares, a quase cinco pés acima do solo. Em 1843 a rua principal ficou três metros debaixo da água.
As árvores espalhadas pela vila mostram a excelência do solo. Em nenhum lugar do Brasil vi mais belos tamarindeiros, remédio natural para males hepáticos. O imbuzeiro (Spondia tuberosa) é uma planta magnífica. O caldo de sua fruta, misturado com leite e açúcar, produz a imbuzada, muito apreciada em Pernambuco e na Bahia. Abundam as frutas, limas e laranjas, mamões e bananas. Nos lugares mais altos, crescem a mimosa e a acácia, o algodoeiro chega a uma altura superior à das casas e nas regiões mais baixas, a cana-de-açúcar dá excelentemente. Atrás e acima da vila, a vegetação é a do campo, excelente para a criação de gado. Nas ruas, vimos alguns poucos cavalos. As cabras aves domésticas tinham aspecto tolerável, mas os porcos e carneiros não pareciam de boa qualidade. Pode-se fazer uma ideia da apatia da população ao constatar que, embora o rio corra diante de suas portas e forneça peixes excelentes, podendo-se comprar sal à distância de poucas léguas, ou mesmo extraí-lo do solo, os moradores comem o bacalhau, duro, insosso e pescado na Terra Nova.
Em 1822 Pizarro atribuía a São Romão 200 casas e 1.300 almas. Em 1840 Gardner reduziu aquele número a "não mais de mil habitantes". Halfeld, no seu Relatório (p. 27-28) fala em 200 casas e 800 almas. O Almanaque (1864) atribui ao município 8.676 habitantes, dos quais 723 votantes e 17 eleitores. Pelas minhas informações,