Ciclo do carro de bois no Brasil

interior do Brasil, testemunhando-o todos os que nasceram nos nossos sertões ou os percorreram. Recordamo-nos perfeitamente do carro que transportava para a missa dos domingos ou dias santificados, para assistirem às Santas Missões, que de vez em quando atraíam para as vilas vizinhas milhares de crentes de todos os quadrantes, ou para as visitas de fazenda a fazenda, minha mãe, irmãs e empregadas. Mais eloquentemente o testificam as respostas ao nosso "Inquérito" realizado em todo o país.

O Dr. Manuel Nunes Pereira, do Serviço de Caça e Pesca, informando-nos a respeito do Pará, diz que o carro ou carroça de bois é usado, às vezes, em certas regiões, como na ilha de Marajó, para o transporte de famílias numerosas em demanda das povoações e cidades ou mesmo em visitas e passeios. Ainda em 1933-1935, no curso de uma visita pastoral de D. Antônio de Almeida Lustosa, arcebispo do Pará, em várias localidades de sua diocese, andou S. Ex. Revma. em carroças puxadas por bovinos. É o que nos informa um interessante volume publicado pela A Palavra de Belém do Pará, sob o título "À Margem da Visita Pastoral".

João Bastos, do Piauí, informa que, embora pouco usado hoje em dia, não raro se encontram carros de bois conduzindo pessoas e famílias, de umas para outras propriedades agrícolas e destas para as vilas e cidades.

São unânimes as informações do Ceará: de uso muito frequente de há alguns anos, hoje se vai restringindo a certas zonas, como sejam a do Cariri, a da ribeira do Jaguaribe, etc., sobretudo na época das chuvas, quando as próprias rodovias se tornam intransitáveis a outros veículos. Irineu Pinheiro, estudioso dedicado da vida cearense, informa textualmente: "Há uns trinta anos transactos, um rico proprietário cratense, o Cel. Raimundo Ferreira Lobo, viajava do seu sítio, na Cruz, até a cidade em um carro de bois, sob uma tolda branca de algodãozinho. Vi-o mais de uma vez no Crato, dentro do seu carro, aos olhares curiosos do povo, o carreiro a bater, de quando em quando, com a vara de ferrão nas ancas ou nas costelas dos animais, estes a firmarem-se fortemente nas patas e a esticarem os pescoços ao estímulo do aguilhão."

Do Rio Grande do Norte a Alagoas, poderíamos dizer, em todo o nordeste, do litoral aos sertões, ainda agora é empregado o carro de bois no transporte de pessoas ou de famílias. De referência a Pernambuco, escreve Getúlio César: "Hoje em dia tal transporte vai rareando. Antes do automóvel era comum irem as famílias à missa

e mais excursões em carros de bois; presentemente na zona do litoral, em pleno inverno, recorrem a esse meio de condução, sendo mais frequentemente usado pelas classes pobres."

Em Sergipe e na Bahia ainda se encontram pelas estradas do interior carros de bois com pessoas e famílias em mudanças, festas, visitas e, no caso de enfermidades, quando se não dispõe de outro

Ciclo do carro de bois no Brasil - Página 519 - Thumb Visualização
Formato
Texto