Ciclo do carro de bois no Brasil

são fatos comprovados pelas crônicas do nosso passado e pela observação dos costumes em voga nas várias regiões do Brasil. Entre as primeiras há que relembrar a sua participação como elemento completivo, nas festividades históricas que consagram velhos costumes, perpetuam antigas tradições e despertam o amor da Pátria; nas religiosas, tão importantes e variadas em seus ofícios e em suas práticas culturais; nas agrícolas ou rurais que celebram as lidas do campo e constituem verdadeiras comemorações do trabalho. Muito mais frequentes, porém, são nas festas domésticas do interior, expressões da vida social e do ambiente familiar das regiões sertanejas, como sejam os casamentos, os aniversários, os batizados e outros sucessos da existência dos indivíduos do mesmo grupo. Documentemo-lo na ordem acima estabelecida.

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Nas celebrações do Ano-Novo, festa das mais generalizadas do mundo, no Brasil e fora dele, representa o carro de bois papel importante, conduzindo para determinados sítios as famílias amigas que, em comum, vão comemorar o início de um novo giro do planeta. Em algumas regiões do país, constituem elementos indispensáveis a certos usos e costumes de nossos fazendeiros. Assim, por exemplo, segundo informes do ilustre tabelião de Araruama, Alvaro do Amorim Machado, nessa região, até mais ou menos 1890, costumavam os fazendeiros festejar o advento do novo ano do seguinte modo: partiam todos na madrugada do dia 1.° de janeiro em carros de bois enfeitados de flores e folhagens em demanda de pontos de encontro e aí chegados se desejavam felicidades, fazendo espoucar foguetes ao nascer do sol, depois do que passavam o dia em festas, a que não faltavam os menos favorecidos da fortuna.

Vemo-lo ainda tomando parte nos folguedos do Carnaval, que é também uma festa de caráter universal. Nas vilas e cidades do interior, até mesmo em capitais, não raro se enche de folgazões, em passeatas ou se transfigura em carro simbólico, aparecendo, enfeitado e iluminado, nos desfiles e passeios. Além das informações que recebemos desta sua participação em tais alegorias, possuímos gravuras de festejos carnavalescos onde surge o carro de bois. Numa delas que relembra o Carnaval de Niterói, capital do estado do Rio de Janeiro, o carro de bois está transformado num veículo simbólico do quadro — "Casamento na roça".

O ilustre fazendeiro Elói Vieira Lannes, de Porciúncula, no estado do Rio de Janeiro, escreveu-nos: "Antes dos veículos motorizados, o carro de bois aqui tomava parte nos festejos carnavalescos, recebendo às vezes as alegorias suntuosas dos clubes: quase sempre o carro triunfal era puxado por garbosas parelhas de bois, escoltando-o guapos cavaleiros, ovacionados pela multidão. Belos e saudosos tempos!"

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