Ciclo do carro de bois no Brasil

Espírito Santo realizavam-se as famosas entradas de carros. Estes, carregados de lenha destinada às caieiras ou fogueiras que deveriam iluminar quase toda a área do povoado, percorriam as ruas, embandeirados, precedidos por um no qual tocavam os músicos; os carreiros costumavam enfeitar os chifres dos bois com ramagens e flores." E o Sr. Roque Verani, de São Roque, no mesmo estado, diz: "O carro de bois emprestava um notável brilho às tradicionais festas religiosas do município, muito principalmente à do padroeiro da cidade, realizada em 16 de agosto." "Na véspera, entram pelas ruas da cidade carros de bois enfeitados de bandeirolas carregando lenha para as fogueiras. É uma tradição conservada religiosamente pelo povo, substituindo-se apenas hoje em dia o carro de eixo móvel e cantiga estridente pelo de eixo fixo, menos barulhento(16) Nota do Autor".

Ainda de São Paulo, e mais interessante e circunstanciada, é a descrição da festa de São João que se realizava, de há 60 anos, nos arredores de São José do Rio Preto, hoje a progressista cidade de Rio Preto. A evocação é da lavra do Sr. Salvador Antônio Blota, agente municipal de estatística: "A 120km mais ou menos do povoado de São José do Rio Preto se haviam estabelecido próximo ao córrego Virador duas famílias mineiras que vieram aventurar a sorte na zona rica do Avanhandava: eram pioneiros da região — Belarmino Ribeiro, mais conhecido por Nhô Belarmino, e José Cassiano, ao todo um grupo de 15 pessoas, entre maiores e menores.

Viviam isolados naquele sertão imenso, em meio da mata virgem. Para chegar à estrada-mestra faziam longas travessias em picadas que iam abrindo na floresta densa. Famílias religiosas ergueram uma capelinha toda de madeira, que teve como orago São João. Na inauguração do novo campanário sertanejo houve uma grande festa que, daí por diante, se repetia todos os anos. Começaram acorrer os habitantes das redondezas atraídos pela fama que se espalhava do santuário e pela bondade de Nhô Belarmino que caprichava na execução das festividades. Não faltava o sacerdote Padre Francisco Bento que tinha o apelido de "Capelão das Selvas" e fora também um dos primeiros moradores da região. Três dias antes do dia do glorioso São João, já os romeiros começavam a chegar à casa de Nhô Belarmino, uns a pé, outros a cavalo, a maioria vinda de muito longe, em carros de bois, de regra enfeitados com flores silvestres. De muito longe já se ouviam o chiar dos carros e os gritos dos carreiros estimulando as boiadas — vamo "Bironha", anda "Malhado", costa "Beija-Flor", "vamo, não vê qui tamo perto?" A recepção dos peregrinos era a mais cordial e alegre possível: palmas, risos, gritos de alegria. Para receber tanto povo Nhô Belarmino e José Cassiano armavam um coberto ou latada de pau a pique, coberto de folhas de palmeiras e, pelo chão, colocavam esteiras de taboca, para que todos pudessem descansar. Um mês antes Nhô Belarmino e sua

Ciclo do carro de bois no Brasil - Página 533 - Thumb Visualização
Formato
Texto