"Enorê, o ente supremo, tendo aparecido em Atiu, cortou um pau, deu-lhe a forma aproximada de gente e plantou-o no chão, enterrado até o meio. Em seguida cortou uma varinha, com ela bateu no pau e este se transformou em homem. Depois, Enorê tratou de fazer a primeira mulher, usando de igual processo. Deste par inicial nasceram dois casais de gêmeos: Zabuiê, rapaz e Hoholaltô, rapariga, e da segunda vez Kamaikorê e Uhainariru".
O General Rondon que assim expôs essa lenda dos Parecis (conf. 1911 — São Paulo), declarou estar a tribo convencida de que esta cena da criação se tenha passado no lugar denominado "Ponte de Pedra", onde o rio Sucuriú-iná passa por baixo de um arco aberto na rocha por suas próprias águas e próximo ao qual existe hoje a estação telegráfica desse nome, inaugurada há cerca de 20 anos pela Comissão Rondon (Lat. austral 13° 34' 23",58; Long. W. Rio 14° 11' 3",75).
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Não é demais relembrar as originalíssimas danças dos Borôros, cinematografadas pela Comissão Rondon, nas quais os índios deslizam sobre o solo com a mesma rapidez e agilidade com que as bailarinas mais afamadas o fazem nos palcos, nem citar o decantado jogo dos Parecis a que eles denominam "Zicunati", minuciosamente descrito por J. Barbosa de Faria, no boletim do Museu Nacional, de maio de 1924 (V. nota 103).
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Dentre outras curiosidades, contou-me o meu prezado amigo o Exmo. Sr. General Marçal Nonato de Faria, que assistiu várias vezes a discussões violentas entre índias, ao tempo em que ele servia na Comissão Rondon e vivia em constantes viagens pelo sertão de Mato Grosso, como pagador.