Pelos sertões do Brasil

E o notável, em todas as contendas, era que cada uma das mulheres, por sua vez, desenrolava o rosário das descomposturas, sem nunca interromper a outra. Falava uma primeiro, gesticulando ameaçadoramente e no tom proverbial das discussões políticas; a outra escutava atentamente, sem apartear, conquanto fosse longa sempre a arenga, de parte a parte, e só iniciava as suas respostas quando a primeira fazia a pausa característica de quem esgotou tudo quanto pretendia assacar contra a sua adversária!

A par de hábitos como este, há outros que constituem práticas horríveis, como, para dar exemplo, citarei o "decreto de morte" do médico borôro... Examinado o doente e depois de vários exorcismos cabalísticos afirma dogmaticamente se o paciente morre ou não; no 1º caso, determina logo, com sapientíssimo prognóstico, a data precisa do desenlace. Chegado o dia de morrer, já assim previamente determinado, o médico (?) comparece à cabeceira do doente e, sob o pretexto de que não seria humano deixá-lo penar... asfixia-o, tapando-lhe a boca e o nariz, para que não respire... Aliás, este hábito está restrito a pequeno agrupamento dos Borôros.

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São comuns as histórias de onças em Mato Grosso e a Comissão Rondon é fertil em episódios relativos ao terrível carnívoro, abundante na zona atravessada pela linha telegráfica. O caso mais curioso dos que ouvi contar nos acampamentos da Comissão foi o que se passou nas proximidades da mata do Sant'Anna e que resumidamente vou narrar.

Segundo hábito dos mais rigorosos em nossos acampamentos, acenderam-se várias fogueiras e junto a cada qual amontoaram-se grossas achas de lenha para alimentá-las durante a noite.

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