Pelos sertões do Brasil

Uma das vantagens visadas com estas fogueiras, era justamente a defesa contra as onças, algumas tão malcriadas que tentavam ainda assim afrontar a claridade e vir até junto do fogo para atacar os homens.

Cada fogueira tinha um faxina (soldado encarregado de trabalhos não relativos ao serviço militar propriamente, como os de limpeza etc.), responsável pela conservação do fogo.

Destes responsáveis — e por infelicidade o de uma extrema — o mais filósofo, deixou extinguir-se a chama e metido no seu amplo capote de pano alvadio, com o capuz enterrado até o queixo, dormiu profundamente...

Alta madrugada o acampamento despertou em alarme, sob a influência eletrizante dos gritos de pavor que soltava o guarda dorminhoco. Acorreu gente de toda a parte a socorrer o pobre soldado, já quase desvairado de pavor e que pôde afinal ser salvo e contar a sua original história:

Uma grande onça "pintada" havia arrastado o homem pela mata a dentro, alguns metros, agarrando-o com os dentes, pelo capuz, segundo ele explicou, e carregando-o em parte sobre o lombo (V. nota 104); aos berros que soltou a vítima e ao pronto socorro que lhe adveio, deveu ele a vida... e nunca mais deixou que se apagassem as fogueiras que lhe deram depois para cuidar...

Acantonei certa noite num rancho (maloca) abandonado pelos Parecis junto a uma cabeceira, ao longe assinalada pelos diademas verdes dos altos buritis.

O rancho em ruínas, mal nos abrigava da chuva e o chimarrão corria de mão em mão. Conversávamos sobre a melhor maneira de realizarmos, logo de madrugada, os trabalhos que até ali nos levara, quando o perdigueiro do Sr. Dario ergueu-se de manso, com a cauda entre as pernas e veio deitar-se aos pés do dono.

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