Dario olhou-o desconfiado e lançou-lhe esta pergunta: "É onça, não é?" E o perdigueiro, com aquele olhar que fala, fitou-o meigamente e sacudiu a cauda devagar...
— Não, Dario — aparteou o dono de um onceiro-mestre que apontou — se fosse onça, o meu cachorro já havia dado sinal!
Alguns minutos apenas se passaram depois desta formal contestação e a canzoada toda, aos uivos e latidos nervosos, precipitou-se em desabalada carreira, para fora da maloca, com o onceiro à frente.
Ao mesmo tempo ouvíamos a corrida desesperada dos nossos animais de montaria, todos maneados, como uma longínqua trovoada que se afastava...
Era evidente que a onça havia batido na nossa tropa e que os nossos cargueiros e as nossas montadas disparavam espavoridas para muito longe, a saltos de ginástica por estarem todos com as patas dianteiras presas pelas maneias.
Saímos então, debaixo de forte chuvisqueiro, uns de archote em punho e outros de carabina embalada e com "a bala na agulha", e fomos "cortar rasto" e verificar se a fera teria ou não vitimado qualquer dos animais.
A algumas centenas de metros encontramos o rasto negaceado de um macharrão e cautelosamente guiados pelas suas pegadas, chegamos justamente ao ponto em que se firmara para dar o bote sobre a sua presa eleita; no solo úmido, via-se o formidável escorregão das patas traseiras logo adiante, bem desenhadas na lama as quatro patas do monstro, enfeitadas com os riscos das enormes unhas, postas em riste no momento do pulo, marcando o lugar exato da queda. Bem junto, o atestado do esforço hercúleo do cavalo para o arranque da salvação, nos dois rasgões profundos abertos no gramado.
Atilado caboclo sertanejo abeirou-se daquele enigma tão rapidamente traçado na escuridão pelos dois animais e