À margem da História do Brasil

"Compreendamos, pois, que o milagre da unidade, obtido pela força centripeta da realeza, teria sido diluído pelos imperativos cósmicos, diferenciadores do litoral de norte a sul, se pelo centro da terra imensa, percorrendo os gerais dos planaltos e ligando as terras altas interiores de Minas aos sertões semiáridos do nordeste, não tivesse o São Francisco fixado a base física da unidade empolgante do Império, constituindo aquele grande tablado geográfico em que populações de missionários, bandeirantes e vaqueiros realizaram, com o vigor próprio das cousas anônimas, o embasamento do lmpério e fixaram o cerne da unidade política indestrutível".

A tese aqui apresentada é a do Rio São Francisco como base física da unidade do Império.

Como, porém, a extensão de unidade política é maior do que a base, compreendo as dúvidas que possam surgir no espírito do leitor, por isso que o São Francisco não pode explicar, senão indiretamente, nem a conservação do Rio Grande do Sul nem a do Vale do Amazonas dentro do assombro de nossa unidade histórica. Mas, logo, respondo.

O São Francisco manteve a união entre o centro do sul — Rio, São Paulo e Minas — e o centro do norte — Bahia, Pernambuco — que eram até o século XIX os grandes núcleos, exclusivos quase de nossa civilização incipiente.