A conquista do Brasil

à atmosfera fumarenta e escura que paira sob o teto enegrecido pela fuligem; aos poucos, porém, sentimos o conforto do aquecimento e do abrigo que a maloca nos proporciona contra a chuva que lá fora se despeja em torrentes. Não conseguimos, porém, ainda distinguir na penumbra, as divisões internas. Achamo-nos em um vasto saguão com cerca de 30 metros de comprimento, por 22 de largura e dez na parte mais alta. Há uma divisão de folhas entrelaçadas que separa do resto da maloca o compartimento destinado ao chefe, suas quatro esposas e filhos. No centro da casa abre-se um largo corredor de oito a dez metros de largura, ladeado pelas colunas que sustentam o teto e que serve de salão para as danças rituais. A partir desta passagem comum e ligando o tapume às paredes externas, veem-se diversas fileiras de esteios mais finos, entrelalaçados de folhas, de maneira a formar dez ou 12 dependências distintas que servem, cada uma, para uma família inteira. A semelhança dessa disposição com a dos compartimentos reservados dos cafés modernos, põe-nos imediatamente à vontade. Mas, nenhum cabaret de Nova York ou de Paris nos proporcionaria as sensações comuns a esses festins periódicos do índio amazonense: a festa anual das frutas, a cerimônia da depilação das crianças ou o rito da puberdade das donzelas.(8) Nota do Autor

Na dependência de cada família, veem-se utensílios de cozinha, tamboretes lindamente entalhados em sólidos blocos de madeira, cestos habilmente tecidos, vasilhame de cerâmica modelada, zarabatanas de mais de dois metros, arcos e flechas de fino acabamento — algumas das quais de tal forma ervanadas, que o menor arranhão por elas produzido representa, para a vítima, uma viagem para o além — esteiras, fogão e redes

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