A conquista do Brasil

o quase reboliço dessa longa via aquática para penetrarmos em um "furo" de canoas onde a mataria compacta forma verdadeira cúpula sobre as nossas cabeças. De repente, uma forma escura e descomunal desenha-se por entre cortina de chuva que encharca a floresta. É u'a maloca — comprida habitação coletiva dos selvagens; chegamos ao termo da nossa viagem.

O chefe, à beira da corrente, com silenciosa dignidade, saúda-nos como a amigos seus que vêm de longe e de quem nada tem que temer. Do cimo da nossa superioridade cultural lançamos um olhar à construção rústica que lhe serve de abrigo da mesma forma que um Califa da Espanha mourisca teria olhado para as habitações senhoriais da Europa medieval, "Sem chaminé, sem janelas e com um furo no teto para dar saída à fumaça, como na choça de certos indigenas".(7) Nota do Autor

Mais devagar, porém!

Um melhor exame nos revelará muito de que nos admirarmos. Os esteios mestres são escolhidos dentre as madeiras mais duráveis da floresta. As traves e os caibros são pedaços de pau lisos, direitos, bonitos e caprichosamente atados com embira; tão bem atados, de fato, que lembram o cuidado do marinheiro ao amarrar o cordame do mastaréu. Do lado de fóra, os beirais são baixos e a cumieira bastante elevada, de maneira que chuva alguma, por mais torrencial que seja, poderá varar a coberta da choça. E, são tão habilmente entrelaçadas as folhas de palmeira, em forma de abano, que as paredes com elas formadas nem as flechas e nem os projetis antigos atravessam. Somos conduzidos ao apartamento do chefe onde nos oferecem lugar para pendurar nossas redes. A tarde já vai caindo e os nossos olhos desabituados levam algum tempo para se acomodarem

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