Viagem ao Brasil nos anos de 1815 a 1817

raramente retiram o "batoque" para comer, do que resulta, forçosamente, falta de asseioNota do Autor. Quando lhe comprovamos os batoques das orelhas, imediatamente penduravam a orla pendente do lobo na parte superior das mesmas Nota do Autor. As mulheres adornam-se também com "batoques", porém estes são nelas menores e mais delicados do que nos homens. Em minha estampa 13, figura 5 (edição in 4 to.), vem representado um destes batoques de mulher, em tamanho natural. A prática dessa repelente deformação é inteiramente estranha aos outros "tapuias" que habitam a costa, a ponto de servir entre eles para designar os botocudos ; assim é que os remanecentes da tribo dos "malalis" moradores atualmente no alto Rio Doce, sob a proteção do "Quartel de Peçanha", dão-lhes o nome de "Epcoseck", isto é, grande-orelha.

Em muitos povos nativos da América do Sul existe, todavia, o uso de furar o lábio inferior; a tribo dos "tupinambás", na costa brasileira, trazia no beiço uma pedra verde (nefrite) e Azara descreve o mesmo fato nos indígenas de Paraguai. Segundo este autor os "aquitequedichagas" tinham nas orelhas Nota do Autor um pedaço redondo de pau, o mesmo acontecendo com os "lengoas", que tinham o hábito de trazer ali um batoque de duas polegadas de diâmetro(a). Essas gentes usavam também no lábio inferior um pedaço de madeira; mas como este tinha a forma de uma língua, não desfiguravam tanto os dos botocudos. Azara encontrou a mesma praxe entre os "charruas"(b) e La Condamine observou no Rio Maranhão selvagens com os lobos das orelhas pendurados até os ombros e tão dilatados, que o orifício neles existentes chegava a medir 18 linhas de diâmetro. Em vez de batoques usavam ali ramalhetes floridosNota do Autor. Ainda se encontram hábitos análogos nas Índias Ocidentais e nas ilhas do Oceano PacíficoNota do Autor, como por exemplo em Mangea, a sudoeste das Ilhas da SociedadeNota do Autor. Os habitantes do golfo de Príncipe William, na costa oeste-setentrional da América (a), e os de Oonalashka(b) trazem pedaço de osso no lábio inferior; La Pérouse figura os habitantes do Port des Français com um orifício no mesmo orgão, e, segundo QuandtNota do Autor, os "caraíbas" os "warauen" da Guiana guardam nos buracos feitos nos lobos das orelhas as agulhas e os alfinetes. Os "gamelas" do Maranhão, usavam batoques no lábio inferior, como os botocudos.