Figuras do Império e outros ensaios

que essa estadia, durante a qual se entretinha em contemplar águas e céus para se vencerem em mútuo esplendor.

O INGLÊS E OS OLHOS

O inglês nasceu com o instinto da paisagem solar. A Inglaterra é um navio perdido num oceano de neblina. A sua primavera e o seu verão são tão rápidos que se pode dizer, sem exagero, que Deus lhe negou o sol. Por isso, quando este aparece, as suas aleluias no espaço, as suas miragens instantâneas são dias de festa, são páginas de ouro, que o gênio dos seus pintores porfia em reproduzir e eternizar. Daí o milagre de Turner nas suas prodigiosas epopeias de luz, apenas entrevistas pelo gênio de Leonardo.

É certo que os outros órgãos nos são tão indispensáveis como o da visão. Mas nenhum tem a sua amplitude, a sua desinteressada nobreza, nenhum diviniza tanto, pela amplitude de apreensão que lhe dá, o estreito confinamento da nossa argila. Ruskin (e um Ruskin só era possível na Inglaterra) compreendeu esta preeminência da vista e criou a Religião da Beleza. Seus iniciados percorrem o mundo à cata dos mais soberbos aspectos da beleza cósmica. Tenho para mim que a Capital desta é o Rio de Janeiro, o maravilhoso Rio que os viajantes ingleses descrevem.

Figuras do Império e outros ensaios - Página 343 - Thumb Visualização
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