PALAVRAS DE PREFÁCIO
Certa vez, numa aldeia do interior do Estado do Rio, depois de uma violenta agitação popular, que se transformou em conflito sangrento entre duas facções locais, ouvi a alguns moradores que um dos grupos ia apelar "para o governo da Bahia".
Porque o governo da Bahia? Essa extravagante ideia feriu-me de surpresa. Depois, um clarão se me fez: há cerca de século e meio, o governo da Bahia regia, como sede do governo geral, a capitania do Rio de Janeiro. Como se havia conservado, persistente e oculta, na memória popular a recordação dessa remota tradição administrativa? Não havia ali nenhum daqueles "homens-arquivos", de que fala Quatrefages.
Esse incidente fez-me compreender o valor do elemento histórico na formação da psicologia dos povos. Nós não somos senão uma coleção de almas, que nos vêm do infinito do tempo.