NOTA
A defesa de Ruy contra os que o acusavam de caluniar o Brasil, ele próprio a antecipou nesse trecho. O Brasil dos régulos e mandões, dos chefes da política nacional e das oligarquias era o Brasil Jeca-Tatu. Mas, além dele, outro Brasil havia. O Brasil das grandes reações da verdade contra a mentira, da consciência contra a fraude, da opinião contra o corrilho. Esse, havia de fatalmente acabar com o primeiro. Ainda não se realizou a profecia de Ruy. A revolução de outubro mudou o regime, mas não mudou os homens. O vinho, engarrafado com rótulos diferentes, é o mesmo. A evolução mental não permitiu aos detentores do poder ver onde está a realidade brasileira, o interesse brasileiro, a verdade brasileira. O país continua a dividir-se entre senhores e escravos, cidadãos e ilotas, dominadores e proscriptos. Não há um esforço sincero de coesão nacional. Não há uma anistia geral dos erros passados. Os cúmplices de então arvoram-se em inquisidores, no afã de renhirem, uns pela mantença das posições, outros pela sua conquista. Não há tempo para pensar nos interesses superiores da Pátria. E, assim, vai o Brasil, em vela seca, ao léu da corrente, sem bússola e sem rumo. Não há ensejo para a manobra; todo o tempo é pouco para recriminar e discutir.