Ensaios de antropologia brasiliana

denuncia uma situação social cheia de complicações vindouras.

A gente que hoje emigra do norte é a mesma que há uns cinquenta anos começou a conquista da hileia Amazônica. É sóbria, resistente, dedicada, corajosa. Mas, do ponto de vista cultural não "está em fase", quanto ao trabalho agrícola, com as populações das zonas meridionais. É uma verdade que ninguém discute.

A defasagem social explica o paradoxo.

Eu não acredito, sinceramente, que um só fazendeiro de São Paulo recuse um trabalhador do nordeste somente por ser de lá. Todos estão conformes em reconhecer que, no fim de algum tempo, os filhos do sertão, fixados em Minas ou em São Paulo, aí se "educam" no trabalho regular e metódico, e são dos "braços" melhores que alguém possa desejar. Mas compreendo, muito bem, que o homem livre do nordeste, vivendo au jour le jour, como dizem os franceses, ou von der Hand in den Mund, como dizem os alemães, ou mesmo "ao Deus dará", como nós dizemos, - compreendo que tal homem não seja recebido com alegria, nas regiões em que os colonos trabalham a horas certas e pagam multa para mudar de fazenda... Cada qual ponha "o caso em si mesmo", e reconhecerá que os agricultores do sul têm suas desculpas. Mas, então, no seio da própria pátria, os nossos irmãos do norte hão de morrer na miséria,

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