Pelo Brasil maior

Antes de 1870, chamou D. Pedro II um belo dia a Pimenta Bueno e mandou que lavrasse a carta de alforria de todos os seus escravos.

Não refletira, ao dar essa ordem, que a sua execução levaria o pânico às classes conservadoras. Era intervir na questão abolicionista. Era abandonar a neutralidade constitucional, a que estava adstrito pelo mais solene dos juramentos. Era talvez levar o país à revolução. Já se tinham ouvido os cardeais da coroa. Os membros mais notáveis do Conselho do Estado, mesmo os abolicionistas de coração, já se haviam manifestado contra o ato da imperial generosidade. Pimenta Bueno teve a coragem de lembrar-lhe mais uma vez. Ante a irredutibilidade dos seus conselheiros, D. Pedro II cedeu. "Em todo o caso, não quero ser servido por escravos", obtemperou. E arranjou um piedoso sofisma para realizar o seu plano. Mandou distribuir os que possuía por diversos lugares e aí libertá-los aos poucos, sem bulha nem matinada, com a clandestinidade dum crime.

Uma antipatia visceral, cuja implacabilidade destoava da sua notória bondade, afastava o Imperador de quantos se tinham envolvido no tráfico, ou esposado a defesa dos seus interesses. Aos senhores de escravos nada tinha que censurar. Tinham aceitado uma situação de fato, para que não haviam contribuído.

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