Introdução à arqueologia brasileira – etnografia e história

lirismo comovido diante da natureza que os perturba. Humboldt mal se acerca do vale do Amazonas e já nele antevê possibilidades de "celeiro do mundo". Bates intromete-se onze anos na floresta e de lá manda dizer a Europa que o "paradis of naturalists" está localizado no Brasil. Ferdinand Denis escreve um livro que é um poema de admiração das nossas coisas. Maravilhado tenta o panegírico: "nada podeia dar uma ideia da admiração que sugerem formas vegetais tão pitorescas e tão novas. O espírito, por pouco que tenha de poético, apodera-se de todos os objetos, a que a imaginação empresta tão indivisível encanto: chega-se a ver ali o reino da abundância eterna". Outras grandes vozes alinham idênticos louvores e, quando a ciência melhor estuda e recomenda moderação na apreciação dos seus aspectos, ainda é a mesma linguagem, de galas e exageros, que o panorama das nossas terras sugere.

Muito deste calor admirativo peca em verdade pelo excesso. Há elogio sem contraste, um universalismo de conceito encomiástico que a ciência se apressará em corrigir. As realidades objetivas colocarão a terra no lugar certo que ela deverá ocupar, dentro do esquema exato da verdade. Mas a justa medida, na apreciação de seus aspectos, não deixará de reconhecer, para o Brasil, como unidade fisiográfica, uma situação singular. O país desnorteia pelo complexo de conclusões a que leva o estudo do seu mundo físico.

A ausência dos cataclismas, que assolam a orla do Pacífico, em grande parte da região andina, assim como

Introdução à arqueologia brasileira – etnografia e história - Página 44 - Thumb Visualização
Formato
Texto
Marcadores da Obra