Gente sem raça

PREFÁCIO

Foi na primeira infância que aprendi amar o Brasil. A devoção patriótica de meu Pai o entronizou, muito cedo, em meu coração. Raro o dia em que sua voz, repassada de admiração, não fazia desfilar, diante dos olhos enlevados dos filhos, o cortejo dos vultos mais assinalados de seu tempo. Na evocação desses personagens sua cálida imaginação dourava-os com cores tão vivas, que nunca mais consegui prescindir delas em minhas concepções históricas. No reconhecimento dos episódios e comparsas de nosso passado, as imagens sobrevindas tiveram sempre que se subordinar aos modelos restaurados, ainda quando a inteligência lhes impunha revisão. Foi, certamente, esse concurso da emoção na implantação de meu sentimento nacionalista que lhe assegurou perpetuidade, mau grado as vicissitudes contrárias que deparou. Até bem pouco, nos cotejos do Brasil com outros países, a meu entusiasmo, ele e suas cousas pareceram, sempre, os maiores e melhores do mundo.

Por muito tempo, meu patriotismo coincidiu com o conceito em que tinha nossa Terra. Se o sentimento, entretanto, estacou na puerícia, foi fatal a evolução das ideias, em sentido inverso. Dia a dia, a realidade me punha em presença de fatos contra os quais lutava em vão meu sentimento. O Brasil que a vivaz imaginação de meu Pai me pintava, não foi o que, pela vida em fora, encontrei nas crônicas de seus biógrafos. O primeiro

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