fato de os indígenas do nordeste brasileiro recusarem-se ao trato com os nautas da frotilha de Fernão de Loronha, o que não aconteceu com os tupiniquins da baía Cabrália, ignorantes das artimanhas e da solércia dos europeus. O espírito da época era, aliás, propício ao regime escravista, por ser o selvagem considerado uma espécie de aberração da natureza.
Índios e brancos, além disso, mal se podiam entender. O selvagem não possuía o sentimento da propriedade privada, não julgava que roubar era crime; por outro lado, como sua manifestação era coletiva, "qualquer ultraje feito a um só português, dele eram considerados reponsáveis todos os portugueses" (João Ribeiro). Tal procedimento, anormal no conceito do homem branco, era um pretexto para a legalização do comércio servil.
Enorme desperdício de vidas foram as chamadas guerras de resgate, agravadas, ainda por cima, pela mortandade proveniente da vida sedentária, que aos ameríndios impuseram os colonos, e pela falta de imunidade do nativo em relação às doenças do branco civilizado. Despovoou-se o trato costeiro: referindo-se à capitania de Pernambuco, dizia, em fins do século XVI, conhecido padre lusitano que os índios da terra eram já poucos.
O escravo, ademais, era uma condição essencial ao colono americano. Os latifúndios, as fazendas, os canaviais, os engenhos, por sua complexidade e extensão, exigiam o labor servil. Para colocar-se bem na terra era bastante possuir dois ou três escravos — gente que pouca despesa dava ao senhor ("porque os mesmos escravos índios da terra buscam de comer para si e para os senhores", diz Gandavo).