Impressões da Comissão Rondon

acometido de algum mal, para salvar a vida deve caminhar sempre, sem parar...

O espectro da fome o acompanha e enquanto por precaução reduz a ração diária, pensa sem querer em empadinhas recheadas de camarões... Tropeça, cai; atravessa rios a nado; sonha de noite com as onças, os lobos, os queixadas, e acorda em sobressalto... diante de tantas dificuldades e sofrimentos, uma ideia afinal põe termo sempre a todas as suas reflexões: "se eu escapar desta, noutra não cairei!..."

A SENSAÇÃO DO DESERTO

O habitante das cidades, ou mesmo das fazendas, não tem a noção do deserto; naquelas, o homem sente-se sempre acompanhado, percebe que existe a humanidade em derredor de si e quando está só, dispõe de vários meios para se pôr em contato com outro ser vivente e racional; na roça, por mais ermo que seja o sítio, se não ouve o galo que canta na habitação mais próxima, tem sempre a possibilidade de encontrar um ou outro viajante que por ali passa. No desertão - segundo se exprime o general Rondon - de Mato Grosso, as esperanças do convívio humano saltam grandes distâncias...

Acabrunhadora noção do ermo! Ter a certeza de que ninguém poderá ouvir um grito de socorro ou uma descarga de Winchester; sentir-se a gente como isolado do mundo, sem ter com quem trocar uma ideia, sem ver ninguém; servir-se a si mesmo em tudo de que precisa para viver; contar consigo unicamente para sua defesa: sentir como que o peso da solidão, no silêncio da floresta... são coisas que jamais entraram nas cogitações de quem pela vez primeira assim se encontra, são sensações que se não descrevem e de que só se faz nítida ideia quando

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