a única solução impeditiva do seu fatal desaparecimento.(1) Nota do Autor
Além de representar uma conversão de instintiva defesa contra o poder invencível do furor napoleônico, o ato de transposição da sede da realeza, de Lisboa para o Rio de Janeiro, não tinha apenas um interesse nacional, português: essa translação política interessava à Europa inteira; asseverava a continuidade dos princípios unitários das monarquias continentais europeias; defendia-lhes, afinal, os ideais de autonomia contra a concepção autocrática de um só imperialismo francês; salvava o sistema monárquico europeu da subversão dos Estados, cujos soberanos eram prisioneiros ou reféns de Napoleão e cujas fronteiras eram por ele e para ele traçadas, ampliadas ou suprimidas, no sonho da monarquia universal que visionara.
Se a saída de Dom João VI para a América do Sul teve, em dado momento, a exclusiva aparência dum pânico liberativo e se a atitude da Corte, embarcando numa esquadra, em trigosa debandada, dava ao quadro aspectos de fuga, de naufrágio ou de qualquer outra catástrofe, nem por isso é lícito concluir que se tratava de um ato impensado, indecoroso, pois é certo que o embarque da Família Real fora previsto com antecedência de muitos anos e refletido em todas as suas consequências.
"Nobre e resoluta determinação" — dizia ao Príncipe Regente o seu ministro Dom Rodrigo de Sousa Coutinho; a ela se deve naturalmente a sobrevivência da nacionalidade portuguesa, diferenciada e salva da revoluta e absorvente doutrina de Bonaparte.
Que não se perdia a independência, embora se entregasse o território material, estava já deliberado, muito