Alberto Torres e sua obra

dos fatos a comodidade dos ensinamentos sumários, e sim um todo vivo e presente para inquérito e retificação.

Não ambicionava Alberto Torres ser um chefe de escola, preparar discípulos para lhe repetirem os princípios no automatismo litúrgico das obediências e admirações deformadoras. Não. Ele, um mestre de sabedoria, um filósofo, procurava companheiros amáveis de entendimento e de estudo, com os quais pudesse discutir com alma e probidade as questões, levando o espírito de análise aos limites da máxima compreensão.

Tinha a paixão socrática do debate e, como o pai do pensamento grego, cultivava aquela ironia que, no sentido dos antigos, não era outra coisa que inquérito e exame.

Como Sócrates, que inquiria com a mesma tranquila confiança o verdureiro na Ágora ou o letrado nas ruas de Atenas, Alberto Torres sofria também de igual curiosidade que nele, como no filósofo, traía a sofreguidão da verdade.

Inimigo das inteligências livrescas que gravitam para as ideias feitas, tuteladas sempre pelo pensamento alheio, formou a sua obra vivendo as suas ideias e libertando o seu pensamento.

A sua obra assim trazia germes mais ricos e poderosos que se fecundaram sob uma temperatura mais alta, ao fogo da imaginação criadora — da imaginação que antecipa as realidades.

A sua imaginação aproximava-se daquela categoria da imaginação realista, que Trotski lobrigou no maior transformador político dos tempos modernos.

Se em vida não conheceu Alberto Torres a glória que Valery, com risonho desdém, classificou de glória estatística, glória que se representa naturalmente pela abundância bibliográfica, pela copiosidade das edições e volume das citações, a sua obra hoje lhe assegura em definitivo uma glória real, pela ressonância profunda das ideias e germinação dos estudos.

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