para um espírito como o de Alberto Torres uma dessas provações terríveis, se aquele alto sentido de humanismo, que era a forma militante da inteligência, não lhe houvesse criado o clima especial da sensibilidade, dando-lhe pela sabedoria o dom da indulgência e da compreensão.
Um meio assim que predispõe ao ceticismo não lhe atenuou a flama do entusiasmo com que animava universalmente os seres e as coisas, aumentou-lhe, ao contrário, a intensidade e a beleza.
Alberto Torres não foi um construtor de sistema, preso à fixidez de ideias hirtas, desses que guardam a ilusão de querer reger os fenômenos da vida pela tábua de princípios supersticiosamente conservados. A sua alma não era dessas almas secas e didáticas dos predicadores que criam, pela hipnose das fórmulas fanáticas, os proselitismos agressivos.
Nenhuma mística sombria forrava-lhe o fundo da natureza, lucidamente liberal, votada ao exame mais largo, desonerada de compromissos históricos ou dogmáticos.
Como o oceano, o seu pensamento tinha a grandeza e as ondulações.
Se escolhera para campo de estudo e de experiência — a Política — na expressão de cuja mobilidade se encontra a razão da própria vida, as maravilhas daquele espírito não se esterilizariam no acetismo mental de preconceitos irredutíveis.
Com que vivacidade repelia a denominação de otimista, de ideólogo, de sonhador, de idealista com que lhe brindavam, na melhor das intenções, os críticos simplistas. Preferia que o chamassem de melhorista, e ele mesmo, quantas vezes, no fulgor das palestras hebdomadárias, a que o Snr. Saboia Lima e nós assistíamos, na intimidade do seu gabinete de trabalho, se classificava de ideorrealista.
Para ele tudo era exame. A história não se lhe afigurava uma disciplina de limitação que oferece na superfície neutra